«O amor (...) é o agente de toda a transcendência no homem. E assim, abre o futuro; não o futuro que é o amanhã que se presume certo, repetição com variações do hoje e réplica do ontem: o futuro, a eternidade, essa abertura sem limite a outro espaço e a outro tempo, a outra vida que nos surge como sendo a vida de verdade. O futuro que atrai também a história.
Mas o amor lança-nos para o futuro obrigando-nos a transcender tudo o que promete.A sua promessa indecifrável desqualifica todo o conseguir, toda a realização. O amor é o mais poderoso agente de destruição porque ao descobrir a inadequação e às vezes a inanidade do seu objecto deixa livre um vazio, aquilo que, de início, é percebido como um nada aterrador. É o abismo em que se afunda não só o amado, como também a própria vida, a própria realidade daquele que ama. O amor é que descobre (...) o não-ser e até o nada. (...). E assim, o amor faz transitar, ir e vir entre as zonas antagónicas da realidade (...). Descobre o ser e o não-ser, porque aspira a ir mais além do ser; de qualquer projecto. E desfaz toda a consistência. (p. 237)
Destrói, por isso dá nascimento à consciência, sendo ele, como é, a vida plena da alma. Eleva ao obscuro ímpeto da vida essa avidez que é a vida no seu fundo elementar, leva-a à alma e a alma à razão. (...).» (p. 238).
María Zambrano,”Para uma história do amor”, Op. Cit. :Cap. III (formatação n.).
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