wellcome // bienvenu // hola // olá

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we are more – act for culture in Europe

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I'm very happy with your arrival! this virtual place is focused on the (so called) feminin and masculin voice's", by the Art's approach, and it is not a diary-blog. I wish you enjoy with pleasure and comments :-)
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Je suis enchantée de votre visite! Remarquez que ce blog (n'est pas un blog-périodique), est construit autour des (désignés comme) voix et regards au féminin et au masculin à travers les contributions de l'Art. Il ne me reste que vous désirer deux toutes petites choses: qu'ayez plaisir ici et... qu'il soit partagé=comenté:-) avec moi.

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!Hola! !estoy encantada con tu visita! mira una cosilla: este blog no es de edición diária ?vale?. Es un blog centrado en las (designadas como) voces y miradas en el femenino (y en el masculino), segundo las aportaciones de L'Arte. Mis votos de que disfrutes por acá y... de que puedas compartir conmigo ese placer :-).
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musical's wellcomings / les bienvenues musicales / las bienvenidas musicales

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29 March 2007

Mensagem à Poesia

Não posso
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Não é possível
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Digam-lhe que é totalmente impossível
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Agora não pode ser
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É impossível
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Não posso.
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Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
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Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
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Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
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Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
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E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
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A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
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Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
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Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
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reconquistar a vida
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Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
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Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
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Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
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Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
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Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
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Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
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Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
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Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
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E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
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Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
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Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
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A terrível participação, e que possivelmente
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Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
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Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
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Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
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Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
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Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
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Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
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Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
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Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
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Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
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Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
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Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
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Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
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Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
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Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
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Há fantasmas que me visitam de noite
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E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
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No amanhã
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Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
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Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
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Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
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Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
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De ter de abandoná-la neste instante, em sua
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, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
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Por um momento, que não me chame
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Porque não posso ir
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Não posso ir
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Não posso.
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Mas não a traí.
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Em meu coração
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Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
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Envergonhá-la. A minha ausência.
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É também um sortilégio
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Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
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Num mundo em paz. Minha paixão de homem
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Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
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Loucura resta comigo. Talvez eu deva
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Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
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O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
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Livre e nua nas praias e nos céus
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E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
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O meu martírio; que às vezes
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Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
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Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
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Mas que eu devo resistir, que é preciso...
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Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
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Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
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Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
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Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
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A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
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A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
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Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
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A quem foi dado se perder de amor pelo direito
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De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
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E uma menininha de vermelho; e se perdendo
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Ser-lhe doce perder-se...
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Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
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Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
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Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
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É mais forte do que eu, não posso ir
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Não é possível
.
Me é totalmente impossível
.
Não pode ser não
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É impossível
.
Não posso.
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«Vinicius de Moraes, o verdadeiro poeta brasileiro, tenta resistir à poesia. O poema acima foi extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 160. «

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